Antes de sairmos do Brasil, essa dúvida já me atormentava: colocar o Theo na escola aqui em Paris ou não.
Quando conversei com a coordenadora da escola em que ele estudava em Petrópolis (uma pessoa em quem confiamos muito), ela defendeu fortemente que colocássemos Theo na escola porque ajudaria a criar nova rotina, no contato com outras crianças, o que, de fato, é bastante intuitivo. Mas, novamente, a questão da língua nos preocupava. Como ele ficaria em uma escola onde não conseguisse se comunicar?
Antes de sairmos do Brasil também procurei informações sobre escola e obtive o básico: que a grande maioria das crianças frequenta escola pública, que ao chegar deve-se ir até a prefeitura do bairro para saber onde seu filho iria estudar. E foi o que eu fiz. Fui à prefeitura do nosso bairro (12ème), apenas para me informar. E qual não foi nossa surpresa ao descobrirmos que, se quiséssemos, poderíamos colocá-lo imediatamente? Precisava apenas apresentar a documentação necessária: carteira de vacinação, passaporte e comprovante de residência.
Não tem uniforme, não tem lista de material e não pagamos absolutamente nenhuma taxa de inscrição ou coisa do gênero. Pagaríamos apenas pelas refeições que ele viesse a realizar na escola (almoço e lanche da tarde) e pelo centro de lazer (para crianças que precisam ficar além do horário regular da escola) - ambos opcionais.
Esse horário regular é na realidade um pouco irregular. A escola se inicia às 8h 30min. Às 11h 30min é a pausa para almoço. O retorno do almoço é às 13h 30min, mas, no caso da Petite Section (turma do Theo), as crianças dormem até 14h 45min. Na segunda e na quinta, a aula termina às 16h 30min. Terça e sexta, termina às 15h. E na quarta só tem aula pela manhã, até 11h 30min.
Nem dá para acompanhar, né? Imaginem a gente...
Eu e Heberti divergimos um pouco sobre quando seria melhor momento de iniciar na escola. Eu preferia adiantar o processo, Heberti preferia adiar. Ao final, decidimos colocá-lo no dia 26/03. E aí sim vivemos o que viria a ser o pico do nosso estresse até agora... a adaptação na escola!
Paris é conhecida mundialmente como uma cidade romântica e turística. Esse blog foi idealizado para compartilhar um pouco de nossa vida em família na cidade, apresentando lados ainda não tão explorados da cultura francesa.
quinta-feira, 31 de maio de 2018
quarta-feira, 30 de maio de 2018
Adaptação do Theo
A adaptação do Theo tem sido o ponto mais sensível de todo o processo. Ele estranhou muito o fato de não conseguir se comunicar. Para ele gostar da nova rotina, atacamos em diversas frentes. Compramos um quartel de bombeiros do lego (que havíamos prometido como presente de aniversário), o levamos a diferentes parquinhos que íamos descobrindo nas redondezas, e até mesmo fomos à loja do Lego, que encanta qualquer um:
Mas a questão da língua era crucial. Ao chegar nos parquinhos, ele tentava brincar com outras crianças e não conseguia pela dificuldade de se comunicar. E pior, passamos por um choque cultural que complicou essa convivência: o "compartilhamento de brinquedos". Explico.
Crianças adoram brincar com o brinquedo do outro (carrinhos, bicicleta, coisas para mexer na areia...). No Brasil, é comum uma criança pedir para ver o brinquedo da outra (mesmo sem conhecer). Caso a criança não queira emprestar, em geral, o responsável praticamente a obriga a fazê-lo.
Pois, aqui em Paris, Theo chegou todo faceiro no parquinho e pediu para um menino deixá-lo ver um carrinho (eu como tradutora) e levou um sonoro não. A mãe falou: "me desculpe, mas ele não quer emprestar". Eu gelei. E tive essa mesma reação inúmeras outras vezes. Assisti ao Theo ter quase que acessos de cólera ao receber essas negativas. E eu com cara de idiota.
O tempo me ajudou a entender essa diferença cultural e isso será melhor discutido em um post que vai ser dedicado exclusivamente ao tema "parquinhos".
Fato é que, após as primeiras semanas de deslumbramento, Theo pedia para voltar para Petrópolis. Começou a ficar mais irritadiço e eu me angustiava ao vê-lo assim.
E aí começamos a pensar com mais força em colocá-lo na escola; tema da próxima pastagem.
Pois, aqui em Paris, Theo chegou todo faceiro no parquinho e pediu para um menino deixá-lo ver um carrinho (eu como tradutora) e levou um sonoro não. A mãe falou: "me desculpe, mas ele não quer emprestar". Eu gelei. E tive essa mesma reação inúmeras outras vezes. Assisti ao Theo ter quase que acessos de cólera ao receber essas negativas. E eu com cara de idiota.
O tempo me ajudou a entender essa diferença cultural e isso será melhor discutido em um post que vai ser dedicado exclusivamente ao tema "parquinhos".
Fato é que, após as primeiras semanas de deslumbramento, Theo pedia para voltar para Petrópolis. Começou a ficar mais irritadiço e eu me angustiava ao vê-lo assim.
E aí começamos a pensar com mais força em colocá-lo na escola; tema da próxima pastagem.
terça-feira, 29 de maio de 2018
Saindo da caverna
Um amigo nosso que mora aqui em Paris me disse uma vez que achou que nossa adaptação foi rápida. Eu acho que custou bastante. Diria que com um mês estávamos mais inteirados, mas que a adaptação mesmo só veio em maio, quase três meses após nossa chegada, não por acaso foi quando comecei a pôr em prática a ideia do blog.
O primeiro grande choque foi com o fuso horário. Acordávamos perto de 11h horário local, influenciados pelo segundo choque: temperatura. Para nos ajudar, um raro fenômeno fez com que as temperaturas ficassem muito mais frias que a média para um mês de março. E um cansaço quase extremo, num acúmulo com todo o estresse pré-viagem.
E o terceiro grande choque, obviamente, era a língua. Eu estava bem enferrujada no francês, Heberti prefere nem ter que falar muito, e o Theo, tadinho, ficou perdido. E esse foi o ponto mais sensível na adaptação. De repente, Theo estava sem a maior parte de suas referências. Ele, que é um menino que faz questão de cumprimentar pessoas na redondeza, fazer amigos, logo ficou super irritado por não entender o que as pessoas diziam e, pior, por não ser compreendido.
No início, ele ficou encantado com tantos parquinhos por perto para brincar, mas logo tomamos um banho de água gelada. Theo gosta mesmo é de brincar com outras crianças e a barreira da língua parecia intransponível. E, então, ele passou a evitar as crianças. Queria ficar sozinho no parquinho. E ele efetivamente ficava por um tempo - aquele do horário escolar, por exemplo. Quando chegavam outras crianças, ele reclamava, pedia para ir embora. Aos poucos ele se voltava muito para mim e para o pai, por motivos óbvios, suas únicas referências.
Eu sofria ao vê-lo se isolando...
Trilhamos, assim, um longo caminho para a sua adaptação, e essa virou uma importante batalha, que merece um capítulo à parte.
O primeiro grande choque foi com o fuso horário. Acordávamos perto de 11h horário local, influenciados pelo segundo choque: temperatura. Para nos ajudar, um raro fenômeno fez com que as temperaturas ficassem muito mais frias que a média para um mês de março. E um cansaço quase extremo, num acúmulo com todo o estresse pré-viagem.
E o terceiro grande choque, obviamente, era a língua. Eu estava bem enferrujada no francês, Heberti prefere nem ter que falar muito, e o Theo, tadinho, ficou perdido. E esse foi o ponto mais sensível na adaptação. De repente, Theo estava sem a maior parte de suas referências. Ele, que é um menino que faz questão de cumprimentar pessoas na redondeza, fazer amigos, logo ficou super irritado por não entender o que as pessoas diziam e, pior, por não ser compreendido.
No início, ele ficou encantado com tantos parquinhos por perto para brincar, mas logo tomamos um banho de água gelada. Theo gosta mesmo é de brincar com outras crianças e a barreira da língua parecia intransponível. E, então, ele passou a evitar as crianças. Queria ficar sozinho no parquinho. E ele efetivamente ficava por um tempo - aquele do horário escolar, por exemplo. Quando chegavam outras crianças, ele reclamava, pedia para ir embora. Aos poucos ele se voltava muito para mim e para o pai, por motivos óbvios, suas únicas referências.
Eu sofria ao vê-lo se isolando...
Trilhamos, assim, um longo caminho para a sua adaptação, e essa virou uma importante batalha, que merece um capítulo à parte.
Chegando em Paris!
Fomos recepcionados com neve! Theo ficou encantado! Foi um grande presente porque antes de partirmos ele perguntava muito "se veria neve".
Além da neve, nos aguardavam os proprietários do apartamento que alugamos. Eles foram extremamente simpáticos, atenciosos e solícitos (reforçando a impressão passada por e-mail). Apesar de pequenininho (20m2), o studio superou um pouco minhas expectativas - que, confesso, não estavam nas alturas -, por ser bem dividido, todo novinho e arrumado, super bem equipado com o que seria essencial para nossa estada. O jardim, que por foto chamava atenção, ao vivo, impressionava. Até hoje, todos que nos visitam, adoram o jardim!
Dá a impressão de estarmos em uma casa. já que moramos no térreo, ou no réz de chaussée, como dizem os franceses.
Como viemos parar aqui
Paris é a pátria espiritual de inúmeros escritores, já dizia o escritor J. M. Coetzee ("Vers l'age d'homme"). E eu dei a sorte de ser casada com um escritor que também tem Paris como sua pátria espiritual (um pouco de seu trabalho pode ser conferido na Revista Germina). Na primeira vez que aqui estivemos - por dois meses -, nasceu o embrião dessa experiência mais prolongada: um ano na cidade luz! Mas, dessa vez, com mais um membro na família, o Theo, que aqui chegou com 4 anos.
Muitos disseram que somos loucos... Outros não tiveram coragem para verbalizar...
Inegável que existe um quê de loucura mesmo...
Pedi licença sem remuneração no trabalho, viemos com uma economia que fizemos à base de bastante esforço, entenda-se: passar anos sem carro, sem saídas para restaurantes e outras viagens de férias. Mas, acho que tem valido à pena...
Queríamos vir com o Theo ainda pequeno, para não atrapalhar sua vida escolar. Inicialmente, nosso projeto havia sido programado para 2017, mas foi necessário adiar para estarmos presentes em um momento delicado da família. Um ano depois, então, uma orquestrada programação foi iniciada: pedido de licença no trabalho (que sempre pode ser afetado por uma componente política); solicitação de visto de longa duração para a França; mudança para um apartamento menor em nossa cidade (Petrópolis); aluguel de apartamento em Paris; além daqueles passos menores, mas que ajudam a te exaurir (contratação de seguro saúde, realização de check-up antes de viajar; malas arrumadas; festinha de 4 anos do filho com direito a despedida da família e amigos, e etc...).
No mês que antedeceu a nossa partida eu tive alguns 'pirepaques'... tudo fruto da ansiedade e do estresse. Do frio na barriga face a tanta mudança.
Morar um ano fora, longe da família, dos amigos,do trabalho. Eu, pessoa ansiosa e elétrica, morando em 20m2, cuidando da casa, do filho, enfrentando mudança cultural e climática, restrição orçamentária... Tantos elementos em uma só equação.
E assim surgiu a ideia do blog, muito incentivada por algumas amigas, mas somente posta em prática após sobreviver o período de adaptação e um certo amadurecimento da ideia. É uma forma de diálogo, de compartilhar angústias e aventuras, dicas e percepções que não constam dos manuais turísticos; e também para servir como fonte de inspiração! Por que não? 😉
Muitos disseram que somos loucos... Outros não tiveram coragem para verbalizar...
Inegável que existe um quê de loucura mesmo...
Pedi licença sem remuneração no trabalho, viemos com uma economia que fizemos à base de bastante esforço, entenda-se: passar anos sem carro, sem saídas para restaurantes e outras viagens de férias. Mas, acho que tem valido à pena...
Queríamos vir com o Theo ainda pequeno, para não atrapalhar sua vida escolar. Inicialmente, nosso projeto havia sido programado para 2017, mas foi necessário adiar para estarmos presentes em um momento delicado da família. Um ano depois, então, uma orquestrada programação foi iniciada: pedido de licença no trabalho (que sempre pode ser afetado por uma componente política); solicitação de visto de longa duração para a França; mudança para um apartamento menor em nossa cidade (Petrópolis); aluguel de apartamento em Paris; além daqueles passos menores, mas que ajudam a te exaurir (contratação de seguro saúde, realização de check-up antes de viajar; malas arrumadas; festinha de 4 anos do filho com direito a despedida da família e amigos, e etc...).
No mês que antedeceu a nossa partida eu tive alguns 'pirepaques'... tudo fruto da ansiedade e do estresse. Do frio na barriga face a tanta mudança.
Morar um ano fora, longe da família, dos amigos,do trabalho. Eu, pessoa ansiosa e elétrica, morando em 20m2, cuidando da casa, do filho, enfrentando mudança cultural e climática, restrição orçamentária... Tantos elementos em uma só equação.
E assim surgiu a ideia do blog, muito incentivada por algumas amigas, mas somente posta em prática após sobreviver o período de adaptação e um certo amadurecimento da ideia. É uma forma de diálogo, de compartilhar angústias e aventuras, dicas e percepções que não constam dos manuais turísticos; e também para servir como fonte de inspiração! Por que não? 😉
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