sábado, 20 de outubro de 2018

Um bate-volta a Berlin

Desde menina, sempre tive contato com a cultura alemã. Meu pai trabalhava na usina nuclear em Angra dos Reis, e morávamos em uma vila - Mambucaba - onde também viviam muitos alemães que participavam da transferência de tecnologia nuclear para o Brasil.

Anos mais tarde, ao iniciar minha vida profissional, fui trabalhar no Inmetro, que, coincidentemente, teve sua criação atrelada ao acordo nuclear Brasil-Alemanha. Um pouco mais tarde, adotamos Petrópolis como morada, cidade que contou com a contribuição de colonos alemães desde seus primórdios e que até hoje cultiva muitos dos traços daquela cultura.

Ao longo de todos esses anos, no Inmetro, tive a verdadeira sorte de sempre trabalhar de alguma forma envolvida em projetos de cooperação com o PTB (instituto congênere ao Inmetro na Alemanha, precursor da Metrologia no mundo.

Inseri a palavra sorte porque aprendi muito nesse convívio próximos, e ao longo dos anos fui desenvolvendo admiração pela forma de trabalho do alemão.

Em 2015, tivemos uma oportunidade de ouro de passarmos 4 meses naquele país (três na cidade de Braunschweig e um em Berlim), quando fui desenvolver um projeto em parceria com o PTB. Theo tinha então menos de 2 anos. Foi muito corrido e cansativo, mas a experiência foi extremamente valiosa.

Estando aqui em Paris, diante da proximidade, passou a valer a pena fazer uma visita ao PTB. Desde 2015, havia alguns pontos pendentes do projeto então iniciado e, para mim como profissional, manter esse contato ativo é fundamental, principalmente porque, ao voltarmos em 2019, eu vou precisar, mais do que nunca, de bons projetos para continuar tocando a vida no trabalho.

E assim lá fui eu. Chegamos a cogitar uma ida a 3, mas ficaria muito caro. Então, reduzi a minha estada para um bate-volta de um dia apenas. Aqui as distâncias são tão reduzidas que um vôo desses correspende, praticamente, a uma mera ponte aérea RJ-SP. Comprando com antecedência, os bilhetes ficam assustadoramente baratos, vale ressaltar.

Foram 3 reuniões no dia, todas produtivas e fluidas, ao mesmo tempo. Fui a uma das instalações do PTB onde nunca havia estado. E descobri que ali estava a primeira construção dedicada à Metrologia no mundo:


Desde nossa chegada a Paris, em março, eu vinha me dedicando a uma desintoxicação (porque saí do Brasil bem estressada) e a estar com a família, especialmente para ajudar o Theo na adaptação. Nesse período todo, pouquíssimas horas foram dedicadas a algo relacionado ao lado profissional. Foram meses de um sabático que se fazia necessário.

Mas sem me dar conta, percebi nessa viagem o quanto começo a sentir falta desse outro lado...

Ter um dia assim tão produtivo, sentir que ainda sou capaz de construir um raciocínio lógico em temas que sempre me foram tão caros, me fez um bem danado. Revi amigos queridos e pude respirar o ar dessa cidade estonteante que é Berlim - quem não conhece, vale à pena incluí-la em um possível roteiro turístico e cultural.

Voltei simplesmente revigorada!



sábado, 13 de outubro de 2018

Maratona cultural: Journée du Patrimoine e Nuit Blanche

No espaço de menos de um mês pudemos saborear dois grandes eventos culturais essencialmente gratuitos: a Journée du Patrimoine, nos dias 15 e 16 de setembro, e a Nuit Blanche, no dia 06 de outubro.

O primeiro evento - uma iniciativa europeia, na realidade - aconteceu em sua 35ª edição e, somente aqui na França, foram cerca de 17000 momumentos abertos ao público, com cerca de 25000 diferentes animações (ateliês, exposições, visitas guiadas, etc.). A programação era tão intensa que eu não sabia o que escolher.

Levando em consideração o quanto Theo adora polícia, bombeiros, exército e afins, no dia 15, fomos visitar a Garde Républicaine, responsáveis pela segurança nacional, especialmente de autoridades no país e chefes de Estado estrangeiros. No desfile de 14 de julho pudemos assisti-los com seus lindos cavalos. A oportunidade de agora visitar o Estado Maior da Guarda soou como algo imperdível. Ademais, fica relativamente perto de onde moramos e a entrada seria totalmente gratuita, contando com apresentação da cavalaria, visita ao estábulo e ao museu.

Claro que nos divertimos muito e Theo adorou tudo. Ficou todo animado ao colocar o chapéu dos guardas que, de tão pesado, quase não conseguia segurar:


No segundo dia da Jornada do Patrimônio, fomos visitar um pequeno museu do trem - outro tema pelo qual Theo é fascinado -, que fica em uma estação nos arredores de Paris: o Musée du Train Rosny Rail. Para lá chegar tivemos que pegar um trem regional (RER) e já aí começou a aventura. Apesar de ter sido uma viagem curtinha, pudemos mais uma vez nos deliciar com toda a atmosfera que observamos nos livrinhos que lemos. E no Museu em si foi uma diversão atrás da outra. As crianças podiam visitar a réplica de cabines de trem, obervar maquetes, equipamentos antigos, e até conduzir um grande 'ferrorama' instalado especialmente para os pequenos:


E, apenas 3 semanas depois, mais um grande acontecimento: a 17ª edição da  "Nuit Blanche", que consiste em uma série de atrações artísticas gratuitas oferecidas de 19h de sábado até 7h da manhã do dia seguinte. Monumentos e restaurantes selecionados ficam abertos por toda a noite.

Escolhemos visitar o Parc Zoologique de Paris, que também fica próximo de casa, e é uma atração muito cara; logo, não podíamos perder a oportunidade de visitá-lo gratuitamente.

Essa foi a primeira balada do Theo por aqui! Fomos caminhando pela noite, em um astral maravilhoso. Muitas pessoas e famílias pelas ruas, animados e em harmonia. O caminho que percorremos para chegar até nosso destino estava todo iluminado, com instalações artísticas dando o tom da noite:


Ao chegarmos na entrada, havia um mundo de pessoas. Era a primeira vez que o Zoológico participava desse evento, abrindo suas portas gratuitamente à noite. Então, acho que muitos parisienses escolheram, como nós, visitá-lo:


Mas a fila andou rápido, tudo muito civilizado e organizado. Eram muitas crianças excitadas com a aventura noturna. Claro que o Zoológico tomou providências para proteger os animais e, com isso, apenas poucos estavam visíveis. Conseguimos ver pinguins, leão marinho, avestruz, alguns pássaros, lagartos, peixes... Mas Theo adorou a aventura:


Voltamos para casa caminhando e a vontade que deu foi de virar a noite explorando cada um dos monumentos e suas exposições, mas precisaremos esperar que Theo cresça mais um pouco.

domingo, 7 de outubro de 2018

Prestigiando a arte brasileira em Paris

Hoje é dia de eleições para Presidente e para o Congresso Nacional no Brasil. Muita tensão no ar. Nas últimas semanas vínhamos acompanhando o desenrolar dos acontecimentos e acabei ficando submersa em notícias e discussões estéreis. 

Na quarta-feira passada, dia 03 de outubro, tivemos uma experiência muito especial que queria compartilhar, mas somente hoje consegui parar para escrever este post, o que acaba por lhe conferir um significado singular.

Nessa época de trevas que atravessamos, só a arte salva.

Era aniversário do Heberti, quem, diferentemente de mim, não gosta de grandes eventos comemorativos. Coincidentemente, uma grande amiga de Petrópolis me escreveu para contar sobre uma exposição aqui em Paris, de artistas brasileiros. Procuro sempre fazer um esforço – muito aprazível, diga-se de passagem – para prestigiar esses eventos, e também aproveitar a oportunidade para alimentar o espírito.

Também coincidentemente, esta exposição foi inaugurada em um centro cultural bem perto de onde moramos: “12 Disciples des Arts” no Centre Maurice Ravel: 


A exposição – imperdível – fica até o dia 26 de outubro, mas uma das artistas – Diana Helman, que também mora em Petrópolis – estaria lá apenas naquele dia. Então, lá fomos nós.

Após uma boa caminhada por uma região do bairro que ainda não conhecíamos, passando por dois novos parquinhos que Theo foi logo explorar, chegamos ao Centro Cultural. Assim que nos deparamos com os quadros e fotografias dos 12 artistas brasileiros, meu coração se encheu de paz, em uma mistura de saudade e orgulho.

Fotografias de André Niedersberg e Meireles Junior

Encontramos a idealizadora e organizadora da exposição – Edna Abreu, a Diana Helman e mais um dos expositores, o Hilson Costa. Passamos uma bela tarde entre paisagens, feições e cores brasileiras. Podia ficar horas admirando as telas e fotografias expostas. Ali estavam representados vários cantinhos do nosso imenso país, ‘do Oiapoque ao Chuí’. Aproveitei para conversar bastante e alguns desses momentos e das belas imagens que tivemos o prazer de experimentar estão registrados nos cliques abaixo:




Saí de lá com a alma lavada e com a certeza de que vamos sobreviver a esse período turbulento. Precisaremos de muita união para isso.

"Não existe meio mais seguro para fugir do mundo do que a arte, 
e não há forma mais segura de se unir a ele do que a arte" (Goethe).

terça-feira, 2 de outubro de 2018

Época de eleições...

Já havia declarado aqui o quanto continuamos com a cabeça no Brasil, acompanhando de perto o desenrolar dos acontecimentos. Com a proximidade das eleições para presidente (e para o Congresso) no nosso país, este tema passou a dominar nossas conversas. Lemos e assistimos vídeos, entrevistas, debates, análises. E a angústia quase me consome.

Ocorre que aqui em Paris também foi iniciado um importante período de eleições, mas diametralmente oposto: a iniciativa denominada Budget Participatif (orçamento participativo). De 07 a 23 de setembro, cada residente em Paris pôde votar em até 8 projetos de sua escolha (4 de seu arrondissement - o nosso é o 12ème; e 4 da cidade como um todo).

E o que é essa iniciativa? Caminhando pelas ruas da cidade, vira e mexe nos deparávamos com uma plaquinha pendurada como essa abaixo, que intuitivamente indica que algo está ali e só foi possível mediante um "orçamento participativo". A curiosidade aflorava, mas somente no mês passado foi possível entendermos de fato do que se trata.

 Jardim no parquinho da esquina de casa - fruto de um dos projetos 

Essa iniciativa destina, a projetos submetidos pelos cidadãos, 5% do total do investimento previsto para ser realizado entre 2014 e 2020 - um total de meio bilhão de euros. A cada ano, então, abre-se um período para a proposição de projetos - que pode ser realizada individualmente ou em conjunto por qualquer parisiense, independentemente da idade ou qualquer outro aspecto. Esses projetos podem ser dirigidos a qualquer tema: cultura, educação, esporte, mobilidade, etc. Em seguida as propostas são analisadas para verificar a viabilidade e, após essa prévia 'triagem', inicia-se o processo eleitoral para escolha dos projetos que serão de fato colocados em prática e cujo acompanhamento pode ser feito de forma transparente na página da internet da prefeitura dedicada ao tema: https://budgetparticipatif.paris.fr/bp/ . Desde sua criação, 1316 projetos já foram aprovados, em toda a cidade.  

Confesso que fiquei maravilhada com a iniciativa - simples, mas de forte significado. 

E aproveitei para exercer meu direito democrático aqui. Foi visível e louvável o envolvimento das pessoas; por todos os lados vimos cartazes, pessoas defendendo suas propostas e urnas para votação em locais específicos. Um exemplo de instrumento democrático.

Um exemplo que de tão simples e eficaz podíamos sonhar em replicar na nossa jovem democracia que tem muita necessidade de mecanismos que a fortaleçam. E como!