quarta-feira, 26 de setembro de 2018

No Parc Montsouris, muito bem acompanhada!

Paris é uma cidade cheia de grandes e lindos parques. Estando aqui por esse período mais prolongado, procuramos extrair ao máximo cada oportunidade de conhecê-los, cada um com seu charme especial. E, que, inegavelmente, ficam ainda mais aprazíveis com amigos especiais.

Quando recebi a notícia de que uma grande amiga viria à cidade, já fiquei em êxtase. Como eu já comentei antes, essas visitas são verdadeiros bálsamos!

A Edi é daquelas amigas que a gente faz da forma mais inusitada e a amizade resiste ao tempo e à distância. Nos encontramos durante uma semana em um congresso no México, em 2008, e ficamos "amigas à primeira vista".  Ela mora em Campinas e eu em Petrópolis, mas ao longo desses 10 anos de amizade, sempre damos um jeito de regá-la.

Ela veio passar 5 dias, após uma viagem de trabalho a Nice. Em meio ao cansaço da viagem e à programação turística com os colegas de trabalho que a acompanhavam, ela me deu o grande presente de encaixar vários momentos para matarmos a saudade.

Durante essa semana de encontros, eu sugeri sair um pouco do básico dos guias turísticos e fomos, então, ao Parc Montsouris - que figura na lista dos mais bonitos da cidade e que ainda não conhecia. Aproveitamos o que viria a ser um dos últimos dias de calor do ano:


Minha amiga disse que gostou muito de poder ver um parque com seus frequentadores nativos - famílias e amigos fazendo piquenique, crianças brincando no parquinho. Theo se esbaldou em mais uma área de brinquedos ao ar livre. Enquanto isso, batemos longos papos.


Para a tarde ficar ainda mais colorida, chamei uma amiga brasileira que fiz aqui em Paris - a Flávia. Ela se juntou a nós, com sua mãe que é uma simpatia, a Suely, e o Dante, também de 4 anos e que já formou uma duplinha dinâmica com o Theo:

Theo e Dante  explorando o "vulcão" do parquinho

A tarde voou e o sentimento que ficou é o de que as baterias foram  recarregadas, mas deixoiu aquele gostinho de quero mais!

Um brinde aos amigos!

terça-feira, 18 de setembro de 2018

6 primeiros meses em Paris: balanço geral

E eis que completamos 6 meses em Paris. Essa tem sido uma oportunidade singular. Podemos passar mais tempo em família e explorar, em maiores detalhes, uma cultura diferente, aprendendo com as novas experiências, que incluem superar nossos medos e sair da zona de conforto.

Sair dessa zona de conforto não é nada fácil mesmo. Crescer dói. E é inegável que temos crescido muito aqui. Não vou negar: houve dias em que a vontade era de pegar o primeiro vôo para casa. Mas vontade dá e passa... E ainda bem que essa passou rápido porque sei que ainda tinha (e temos) muito o que aprender. Ao longo do tempo vamos nos adaptando e a grande saudade fica mais administrável.

Já nos sentimos mais familiarizados e menos perdidos. Theo tem feito coleguinhas, está a cada dia mais solto nos parquinhos e na vizinhança. Essa vizinhança, aliás, tem sido um ativo muito especial. Duas senhoras que moram aqui no prédio são pra lá de gentis, fazem comidinhas gostosas e compartilham conosco, brincam com o Theo e vira e mexe dão uma lembrancinha para ele, que adora! Também temos nos esforçado para conhecer e revisitar lugares especiais, buscando programas culturais e aproveitando sempre que tem algo gratuito. São momentos que sem dúvida ficarão marcados com imenso carinho:


Outro aspecto a ser salientado é que antes de virmos pra cá, uma grande dúvida que eu tinha estava relacionada ao tratamento que receberíamos. A recente crise dos refugiados despertou em mim esse receio: de que os franceses viessem a se comportar de maneira hostil a imigrantes de forma generalizada. Para minha feliz surpresa, posso dizer que em todo esse período não houve qualquer micro incidente que pudesse nos deixar incomodados com o tratamento que nos tem sido dispensado. Ao contrário, temos sido muito bem tratados, até porque algo que havia notado na outra vez que viemos para Paris - e que agora ficou ainda mais evidente - é que os franceses têm imensa simpatia pelo Brasil. Não são raras as ocasiões em que algum francês, ao saber que somos brasileiros, nos trata de forma afetuosa e faz vários elogios à cultura e a diferentes aspectos do nosso país.

Falando de Brasil... Em todo o período escrevendo aqui não tenho tocado na nossa conjuntura para não misturar alhos com bugalhos. Mas se alguém tinha dúvida, é bom esclarecer: não estamos aqui alienados; acompanhamos com fervor todos os acontecimentos. Infelizmente, não dá para dizer que as notícias que chegam são boas. Muitas noites mal dormidas aqui devemos a preocupações suscitadas por algo que lá ocorreu. Como dizia Stalislaw Ponte Preta: "Quando estamos fora, o Brasil dói na alma; quando estamos dentro, dói na pele". É bem isso o que sinto nesse momento.

quarta-feira, 12 de setembro de 2018

Volta às aulas: la rentrée

Já no final das férias, Theo de vez em quando perguntava da escola, demonstrando saudade. Compramos uma mochila nova, do Bombeiro Sam -que ele adora! -, fomos preparando o terreno e ele foi bem animado para o primeiro dia de aula, no último 03/09.


Neste novo ano letivo, ele começou na Moyene Section da Maternelle. Nova professora, novos desafios. Mas muitos coleguinhas são os mesmos, e a alegria do reencontro foi notável.

E já se foram 8 dias de aula. A adaptação está infinitamente mais fácil  que aquela que encaramos quando aqui chegamos e ele iniciou as aulas. Até porque agora ele já entende bem melhor a língua e começa, inclusive a dizer algumas frases e expressões em francês.

Mas, sem muita surpresa, após a novidade dos primeiros dias, ele começou a dar uma choradinha no momento de chegar à escola pela manhã... Normal... afinal, foram dois meses de pura curtição! Além disso, nesse novo período o horário está sendo mais puxado. De segunda à sexta, ele entra  às 8h20min e sai às 16h30min - à exceção de quarta-feira, quando a aula termina às 11h30min. Mas todos os demais dias ele vem almoçar em casa nesse horário de 11h30min, retornando às 13h20min. EssA saída para o almoço é opcional - e, na realidade, a quase totalidade das crianças almoça na cantina da própria escola. Como eu não estou trabalhando e o Theo pede para vir almoçar em casa, não acho sacrifício nenhum poder propiciar esse momento em família para dar uma aliviada na rotina.

E, falando em rotina, a 'rentrée' representa também a retomada da rotina dos parisienses como um todo, que simplesmente desapareceram durante o verão. O ritmo voltou mais acelerado e nós também teremos novos afazeres na rotina enquanto Theo está na escola. De alguma forma, esse tempo tem que ser produtivo. E ele certamente será.

terça-feira, 4 de setembro de 2018

Um domingo, dois Museus: uma conquista e uma derrota

E eu que achava que esse seria apenas mais um domingo de museu gratuito... mas uma reviravolta quis que esse domingo também fosse marcado por um outro episódio desolador e, infelizmente, irreversível.

Como em agosto deu certo nossa ida com o Theo a um Museu que oferecia gratuidade especial para esses dias, resolvemos nos arriscar, neste primeiro domingo de setembro, em uma ida a um museu maior, e escolhemos um dos meus preferidos: o Musée d'Orsay. E tivemos um dia realmente muito especial, em toda a sua simplicidade.

Theo havia passado os últimos dias indo a uma ludoteca que montaram perto de casa e era só o que queria fazer. Usei toda a psicologia infantil para explicar que se fomos com ele à ludoteca por 3 dias seguidos, nada mais justo que no domingo nós - o pai e eu - escolhêssemos o programa. E queríamos visitar um museu. Confesso que saí levemente preocupada porque não queria que de alguma forma a chance de aguçar seu interesse por museus fosse perdida.

Fiz esse preâmbulo para dar mais destaque às suas reações que viriam mais à frente. Theo saiu de casa me perguntando se eu tinha certeza de que seria legal ir ao museu; estava bem desconfiado...

Mas ao chegar lá, passou a repetir: "nossa, mamãe, valeu muito a pena mesmo não ter ido à ludoteca". Diferentes detalhes o conquistaram, começando pela entrada de tirar o fôlego com as boas-vindas do salão de esculturas em seu Pavilhão Central:

eza

O Museu está localizado às margens do Rio Sena, em um prédio que abrigava uma antiga estação de trem. E, quando perguntei para o Theo "adivinha o que esse prédio era antes de virar um museu?", ele acertou na segunda tentativa e ficou em êxtase! (A primeira resposta dele foi "um quartel de bombeiros", hahahah). E, cheio de curiosidade, logo quis explorar as maquetes expostas:



Antes de passarmos para a melhor parte da visita, paramos para uma pausa no "Café Campana", decorado justamente pelos Irmãos Campana, dupla de designers brasileiros cujo trabalho passei a admirar após visita a uma exposição no Centro Cultural Banco do Brasil. Faz muito bem se sentir próximo a um pedacinho do país que deu tão certo!



A parte mais importante da visita para mim, e que explica porquê este é um dos museus que mais gostei de visitar na vida, é a coleção impressionista, uma das maiores do mundo. Elá está o quadro que, dos que já vi pessoalmente, achei mais espetacular, que é "A noite estrelada", do van Gogh, o pintor que eu mais gosto (curiosamente, ou não, o irmão dele se chamava Theo).

E eu fiquei bem emocionada de poder mostrar o trabalho dele ao vivo para o Theo. O quadro abaixo, por exemplo, de longe, Theo foi dizendo: "Olha, mamãe, é o quarto do van Gogh". Isso porque em um livro de artes para crianças que pegamos na biblioteca daqui tinha esse quadro, daí a memória já foi devidamente criada:



Até aqui, a postagem falou de um museu e uma conquista: o Musée d'Orsay e a bem-sucedida apresentação de mais um pedacinho desse vasto mundo para o Theo. E até o parágrafo anterior eu havia escrito no próprio domingo (02 de setembro de 2018), ainda empolgada, mas deixei para fazer o 'acabamento' no dia seguinte...

..e eis que no dia seguinte acordei e vi no celular a fatídica notícia de que aquele domingo seria marcado não pelo Musée d'Orsay e pela conquista que descrevi, mas pela derrota que experimentamos no Brasil, com o incêndio que destruiu o Museu Nacional no Rio de Janeiro. Um lindo Museu que não vou ter a chance de mostrar ao Theo. Por essa e várias outras questões que a notícia também trouxe à tona - o que não cabe expor aqui - eu passei a segunda-feira desolada, nem sempre conseguindo conter as lágrimas. Sem dúvida esse domingo vai ficar marcado na minha vida pessoal por ter experimentado sentimentos tão opostos e assustadoramente conectados e que, por isso mesmo, se tornam tão significativos.